Os 8 Circuitos Cerebrais

Os circuitos se distribuem da seguinte forma:

I. O circuito físico - Nele o homem aprende a se aproximar do alimento e da segurança e evitar o perigo. Todos os animais vertebrados desenvolvem essa reação. Também chamado de "circuito da sobrevivência".

II. O circuito emocional - Nesse circuito o homem aprende a agir como animal político, com exigências territoriais. Todos os mamíferos desenvolvem esse circuito.

III. O circuito simbólico - Aqui o homem se confronta com símbolos para expressar o que quer e a habilidade de manufatura de ferramentas. Apenas os seres humanos desenvolveram bem esse circuito.

IV. O circuito social - Aqui o homem entra no âmbito de sua cultura e da transmissão desta, além de um código moral específico e inclusive etiqueta e normas tácitas de convívio. Apenas o homem civilizado desenvolveu completamente esse circuito.

V. O circuito hedônico - O homem encontra o prazer na vida. Apenas poucos indivíduos no passado chegaram a esse circuito, e eram mantidos as custas do trabalho braçal de muitos outros. Os artistas dominam esse circuito. Também chamado "consciência fisiológica".

VI. O circuito psíquico - Aqui o homem consegue alterar sua programação básica e reescrever os padrões a ele impostos pelos circuitos inferiores, as programações mamíferas, tribais, intelectuais ou sociais. Poucas pessoas dominaram esse circuito, e poderiam ser chamados de xamãs no sentido específico. Também chamado "consciência neurológica".

VII. O circuito mítico - Nesse ponto o homem passa a controlar seu papel na evolução como um todo. As pessoas que chegaram nesse circuito são geralmente chamadas "Santos". Também chamado de "consciência DNA".

VIII. O circuito espiritual - Aqui se diz existir uma "consciência quântica" da realidade. Apenas algumas pessoas dizem ter tido experiências de oitavo circuito. A Iluminação dos sistemas orientais se refere a este circuito.

I - Os cães de Pavlov
I - O Circuito físico
Nenhuma, respirou a luz indistinta e encantada das estrelas, e duas. Pois Sou dividida por amor ao amor, pela chance de união.
AL I, 28-29
Neste circuito o ser humano experimenta a busca do seio materno e a repulsa pelo ambiente agressor. É um circuito de emergência, uma regressão aos estados unicelulares da evolução. Perigo iminente, um bom almoço, o prazer de ir ao banheiro, são todas sensações típicas do I circuito. Os xamãs deste circuito são médicos, cozinheiros, mães, faxineiras e todos aqueles que lidam com as necessidades básicas de sobrevivência, que nutrem, reparam e limpam fisicamente o ser ou seres dentro de seu escopo de ação, que em geral não é muito grande (bebês e doentes exigem cuidados demais para serem tratados em lote). Freud chamava a este circuito de fase oral, e por esta razão a mãe é a chave do xamanismo neste circuito.
O xamã deste estágio deve se portar como a mãe, uma criatura toda-benevolente, dócil, meiga e ao som de sua voz devemos retornar ao útero materno. Ou, por outro lado, pode ser um assassino, uma pessoa que trata os problemas de circuitos superiores (seus ou de outrem), com a retirada abrupta da vida alheia, da mesma forma que a pessoa comum má sucedida nesse circuito é um suicida.
Geralmente um assassino está respondendo ao fracasso do II circuito (emocional), como num crime passional, do III circuito (intelectual), como num crime ideológico, ou ao IV circuito (sócio-sexual), num crime político. Assassinatos são um recurso raro para pessoas que fracassam nos quatro últimos circuitos, principalmente porque elas entendem os sistemas punitivos do IV circuito (polícia), além de serem mutantes muito raros. Uma pessoa cometendo um crime passional está tão tomada de reflexos do II circuito que é incapaz de perceber a punição social que lhe será infligida.
O aperfeiçoamento do xamã moderno neste circuito envolve o conhecimento de substâncias medicinais, alopatia e homeopatia, cozinhar bem, saber assumir um arquétipo maternal , acalmando e trazendo as pessoas chocadas com problemas de II ou VI circuitos de volta ao fluído amniótico, para o seio materno, para o sono reconfortante. Carinho, chazinho de camomila, o bolo da vovó, aguinha com açúcar são técnicas típicas para ajudar o convalescente amebóide a voltar ao comportamento primata dos circuitos II ao IV. As substâncias típicas que trarão o sujeito de volta ao útero da mãe são os barbitúricos e os opiáceos. Uma câmara de isolamento e um quarto escuro são boas maneiras de ativar um comportamento de I circuito, embora, paradoxalmente, também possam levar a uma experiência de VIII circuito, típica de pessoas a beira da morte, ou saindo de uma anestesia geral. A câmara de isolamento é o método mais seguro para se obter uma experiência de I e possivelmente VIII circuitos.
Sem a capacidade de desfrutar os prazeres do I circuito também não será possível desfrutar os hedonistas/neurosomáticos do V, pois a consciência corporal, o prazer com o alimento e a excreção, são absolutamente necessários para uma experiência de V circuito. Como a briga atual é entre as pessoas de IV e V circuitos (representada muito corretamente pela revolução da década de 60 com a briga entre pais patrióticos e filhos pacifistas nos EUA), existem alguns tabus sociais quanto ao hedonismo típico tanto de bebês quanto de mutantes de V circuito, e os prazeres da gula, do sono prolongado e o prazer de defecar, por exemplo, são podados pelos padrões de beleza (magro-gordo), utilidade (trabalhador-vagabundo) e pudicícia (envergonhado-escatológico) dos caretas civilizados do IV circuito.




1. A Mãe
É destino de todos nós, talvez, dirigir nosso primeiro impulso sexual para nossa mãe.
Freud, A interpretação dos sonhos
O incesto está no início de toda biografia e cosmogonia.
Camille Paglia, Personas Sexuais
A natureza é bela somente por virtude do sentimento e amor dados a ela pelo homem. Os atributos estéticos emanados disto têm influencia primária na libido, a qual sozinha constitui a beleza da natureza.
C. G. Jung,
Símbolos e Transformações da Libido
Somos advertidos a não cair na tentação de acreditar que o amor maternal não seja tão sádico e sanguinário quanto o darwinismo nos leva a crer. Rousseau, com seu ideal de natureza, apenas representa a eterna docilidade do bebê (o xamã de VIII circuito) que acabou por aprender a escrever e só pode fazer odes de amor puro a sua mãe, que o acaba devorando.
Para o crescimento, é necessário o desprendimento da mãe. Existe, no macho principalmente, uma luta pelo estabelecimento da própria libido, e conseqüente renascimento. Libido é a palavra chave do crescimento, neste caso, porém deve se tomar cuidado e definir Libido como Vontade Pura, Thelema, e não apenas (mas principalmente) impulso sexual. O Sol é puro Thelema, as coisas nascem e morrem sob o signo da Vontade. A Mãe é a terra Fertilizada. Assim, o desafio do primeiro circuito, a sobrevivência em si, de toda a vida, é roubar o falo do pai (sol) para fecundar a mãe (terra), ou como os cabalistas diziam: Tu formulastes o teu Pai e tornastes fértil tua mãe.
Mas no primeiro circuito ainda não existe a figura do Pai, que aliás, é uma invenção razoavelmente recente: nas primeiras tribos não se conheciam os mecanismos de fertilidade, e os filhos certamente tinham mãe, mas os pais eram coletivos, pois eram desconhecidos. A descoberta da conexão entre sexo e reprodução levou a invenção da propriedade, primeiro das mulheres e filhos, e posteriormente de território. A libido dos adolescentes era estabelecida em ritos de passagem.
Essa definição Junguiana da Libido de Freud será chamada de Thelema (Querer) daqui em diante, com Agape (Amor) como parceiro. A diferença entre verbo e substantivo é importante, pois os valor de ambos é igual, embora a aplicação seja diferente. Na tradição hermética poderíamos atribuir à Pomba, que desce, Agape, e à Serpente, que sobe, Thelema.
O homem é um dos animais a passar mais tempo com os pais após o nascimento, isso indica o fortalecimento da figura da mãe nos primeiros estágios (bebê) e do pai (II circuito) nos estágios finais antes da puberdade. É o que Freud chamava de transição da fase oral para a fase anal. O bebê passa de mero sugador a um exímio controlador de entrada e saída.
Essa energia é o que fará a criança explorar o mundo de forma tímida ou aventurosa, e acabará por determinar se algum dia o afastamento da mãe se dará. No IV circuito, o homem utiliza essa energia para matar o pai de sua consorte, ou seja, substituir a imagem paterna por sua própria, e reiniciar o ciclo.
Essa corrida de revezamento com o bastão da libido é a formulação da Thelema da pessoa a partir da Thelema do macho derrotado. Dessa forma, o sol que se pôs renasce após a noite negra na figura da Thelema do filho. Na mitologia temos Hórus, a Criança e Hórus, o Velho, dois deuses irmãos (note que a Thelema de ambos é a mesma) atribuídos a posições diferentes do sol no céu.
Agora, estendendo essa metáfora ao campo da filosofia, a realidade é a mãe, a consciência o filho. Realismo (Hórus, o Velho) e o Idealismo (Hórus, a Criança) são estágios duais em que a mãe engole ou expele o filho, como Cronos, ou como a respiração de Brahma, ou preferindo a mais aceitável explicação científica: Big Bang e Big Crunch. Chamar o princípio feminino de Deusa, ou de realidade, Yin ou de Mãe, ou de Filha, ou de Noite, ou de Idealismo, ou de Infinitamente Grande, é apenas a mesma coisa (Agape) sendo admirada por um microscópio ou um telescópio. E, por outro lado, chamar de Pai, Deus, Filho, Yang, Realismo, Infinitamente Pequeno, ou de Dia o princípio masculino (Thelema) é a mesma coisa usando um microscópio ou um telescópio.
(Esse livro é provavelmente o Voyerismo do Deus, que procura a experiência do O e do I, que busca reunir sua Thelema ao Agape, que como substantivos já inverteram de sexo. O ser que unificou o dois não é. Nah.. Talvez se trate de alguma forma de fazer arte com papo cabeça.)

2. O pai

"Se teus filhos descobrirem o quão capenga realmente és, eles te matarão enquanto dormes."
Frank Zappa, Freak Out!

A figura do Pai é essencial no desprendimento do filho pela mãe. Sem ele ou mecanismos de defesa variados são criados, ou o filho é como que eternamente absorvido pela mãe. Ele não consegue sair do estado emocional para o racional, onde um equilíbrio dos dois seria desejável.

O Pai é mais bem entendido do que a da mãe, a nível externo. O controle é instituído. Onde só havia leite infinito, passa a haver lei.

A figura do Pai, neste sentido passa a ser muito mais humana do que animal. Em muito poucos animais o Pai ajuda no processo de criação do filho. O desenvolvimento de habilidade e linguagem é basicamente uma função paternal, pois exige disciplina, coisa que a mãe, sem a figura do Pai por perto, geralmente tem dificuldade em estabelecer.

Disciplina paterna gera auto-disciplina futura. Geralmente inconsciente. Freud chamou essa função de "Superego". O que é superego para o II circuito é chamado Ethos para o IV, e se relaciona com o conjunto de regras sociais tácitas que uma dada comunidade possui. O Direito, por exemplo, é obviamente uma função paternal aplicada à sociedade. Por isso a sociedade ocidental moderna é chamada de "patriarcado", embora nenhuma sociedade matriarcal efetiva tenha sido encontrada por antropólogos. A mudança básica do nomadismo para a criação de aldeias e cidades foi acompanhada pela mudança de paradigma religioso da Deusa para o Deus. E o monoteísmo é caracterizado pela solidificação de um Ethos. Observe o Ethos judaico, que sobrevive onde quer que esteja [o vírus - sistema de crença - judaico mutou de forma extremamente vantajosa quando adquiriu a capacidade de infectar outras raças; o cristianismo além disso incorpora uma rotina de auto-reprodução proselitista].

Biologicamente podemos dizer que o Pai do II circuito tem uma estreita ligação com os animais chifrudos e suas disputas por terras e fêmeas. Ou, trocando mamífero por civilizado: Ethos e Genes. Os que tem o MEU sangue e MINHA tradição são meus, os outros MORRAM. Basicamente defesa de território com excrementos. Esses chifres deixam de se relacionar com o tribal e passam a se relacionar com o individual no VI circuito, onde o indivíduo não é mais mamífero, de certa forma.

Os advogados os militares e os políticos nascem aqui. Eles tem a função "social" de marcar os limites com tinta no papel e armas, ou de regular internamente o território. Eles cagam nos que podem retirar os alimentos e fêmeas deles. Uma função da maior importância para mamíferos inferiores [o autor se desculpa por ser tendencioso e boceja].

Pais dão exemplo, não seguir o exemplo do Pai é ser reprovado pela mãe: culpa. Portanto a chave para o crescimento para o III circuito é ter chifres maiores que os do pai e roubar a terra e as fêmeas de todos. Muito espertamente, a culpa por uma relação incestuosa é incutida rapidamente pelos pais, enquanto a terra é protegida pelos excrementos dos advogados. Mas tudo isso só acontece porque dois machos com pouca terra e poucas mulheres sempre disputam.

Um sempre perde, é a natureza do II circuito.


II - O circuito emocional

"No almoço, os atores macacos se separavam, já que suas maquiagens os limitavam a alimentos líquidos ingeridos por um canudo. Mas além disso, eles se auto-segregavam por espécies: gorilas numa mesa, chimpanzés em outra, e orangotangos em ainda uma terceira. Deixo para os antropólogos explicarem isto."
Charlton Heston, sobre as filmagens de Planeta dos Macacos

Engatinhar e explorar o mundo são as características pelas quais passa qualquer homem quando sai de seu estado de bebê e se torna um mamífero cheio de exigências políticas dentro de uma família. O segundo circuito se refere a esse mamífero, o homem enquanto criança exigente e político familiar. É o circuito da novela, da chantagem emocional, da culpa e recompensa, da "analidade" freudiana, do ciúme, da insegurança, da possessividade, do carisma, da popularidade e da autoridade. O xamã neste circuito trabalha com aconselhamento ou manipulação emocional, ele é o psicólogo, o padre no confessionário, a fofoqueira e o malandro.

O xamã neste circuito deve saber usar a voz da autoridade, tendo sempre autoconfiança inabalável, ou pelo menos a aparência desta. Deve agir sempre como um pai: dando diretrizes, indicando saídas, aconselhando. Por outro lado, deve saber impor medo, manipular sentimentos de culpa/recompensa e ordenar.

O carisma é essencial para um xamã neste circuito, a pessoa deve se sentir tentada a imitá-lo logo nos primeiros contatos. Ele é um modelo, ele é o líder, o que "gostaríamos de ser quando crescermos". As técnicas de segundo circuito são empregadas por um xamã para provocar repulsa, medo, indignação, raiva. Isso é aplicado de forma que ela perca a dependência e o apego aos bloqueios comuns deste circuito, ou se especificamente lhe aprouver, de forma a criar uma relação morna sentimental baseada na chantagem emocional. Pode prender a pessoa para fins de outros circuitos, como por exemplo no IV, mantendo aparências num casamento com alguém extremamente dependente, e ao mesmo tempo tendo uma concubina. O exemplo do xamã de II circuito é uma pessoa comum de IV ou III, e portanto sujeita ao tipo de manipulação de um xamã de circuito superior.

O aperfeiçoamento do xamã deste circuito se dá com conhecimentos de psicologia, motivações e observação atenta de comportamentos, embora o cultivo de um físico forte também auxilie. A auto-estima obtida com um primeiro circuito bem sucedido, de ter tido segurança até ser belo, é essencial para impor uma imagem modelo, alguém de quem você não ousa discordar, e de quem acaba acatando passivamente as ordens/conselhos.

A droga que leva você ao II circuito é o álcool, ele dá segurança nas primeiras doses, e o transforma num bobalhão emotivo em altas doses. Isso o deixa ocê susceptível tanto a ataques de "ódio", o caso clássico do marido bêbado que bate na mulher, quanto a ataques de "amor", o bêbado chato e grudento que fica te abraçando e dizendo o quanto é teu amigo. Veja bem, a droga relacionada ao circuito não o transforma em um xamã, mas lhe dá a experiência típica de uma pessoa naquele circuito. Assim, para um xamã de VI circuito, por exemplo, o álcool só é útil e válido para "estudo de campo", ou seja, para experimentar ele mesmo o que um sujeito de II sente normalmente. Porém a um sujeito tipicamente centrado no I circuito, em depressão profunda, por exemplo, a experiência com o álcool pode ser extremamente perigosa.

O estereótipo da pessoa presa neste circuito gosta de novela, música romântica ou pop rock, e elogios melosos. Não é de se estranhar que se ouça tantas reclamações sobre este tipo comum de pessoa do outro tipo de pessoa mais comum, a de III circuito, lógica e bitolada em pensamento binário/linear/euclidiano, como veremos a seguir.

Sem a capacidade de controlar as emoções do II circuito a auto-análise e a metaprogramação do VI ficam comprometidas. Por exemplo, sem manter uma frieza relativa a pessoa não consegue ver o mundo da maneira que outra pessoa o vê. O controle do II circuito poderia ser chamado de "imparcialidade", o que ajuda a quebrar as barreiras de III e IV para a visão da multidimensionalidade relativística do VII.

III - O circuito intelectual

"O homem é um fetichista. Sem seu fetiche, a mulher tornará a engoli-lo."
Camille Paglia, Personas Sexuais

Capacidade de abstração, uso de símbolos. Esse é o primeiro circuito que podemos chamar de "humano", já que o II é compartilhado por todos os mamíferos e pela maioria dos vertebrados, e o I por todos os seres vivos. Destreza manual e capacidade de comunicação simbólico/abstrata são características básicas deste circuito. São as pessoas letradas de nossa sociedade, os intelectuais no sentido estrito. Pessoas centralizadas nesse circuito tendem a ser obsessivas ou pelo menos muito ativas. Elas separam as coisas e as interpretam e estudam paulatinamente seus meandros, elas dissecam a realidade. Elas são a base da curiosidade, do aprendizado e da estrutura educacional como um todo. O xamã neste circuito é um mestre no uso da palavra, na classificação das coisas e da exposição das idéias com clareza e síntese. Ele domina boa parte do conhecimento estabelecido e pode criar sistemas dogmáticos e esquemas de classificação próprios, embora não possa entender as realidades-túnel de um xamã de VI ou VII circuito, e portanto não seja capaz de criar universos conceituais sem acreditar neles. O xamã de VII circuito é adogmático, não professa fé específica, pula através dos sistemas de crenças, um de III está preso aos trilhos de sua educação formal. Professores e pessoas que produzem [no sentido de inventar] conhecimento são os xamãs do III circuito, e já são bastante raros em comparação aos de I e II circuitos.

Este xamã deve conhecer retórica, línguas, matemática, lógica, informática e teoria da informação - embora de certa forma, para fins profissionais a maioria se especialize em alguma das áreas. Erudição é essencial, mas não basta. A produção intelectual se deve a fatores de estabilidade/bloqueio do II circuito, e é característica dos estados maníacos obsessivos - "brainstorm" - onde nada pode continuar antes do cérebro sobrecarregado expelir símbolos.

As técnicas de III circuito são utilizadas para argumentação eficaz, ou seja, imposição dogmática, que para uma pessoa de IV circuito envolve moral, e para uma pessoa de VI envolve paradoxo e não-linearidade. Uma pessoa de VII circuito que tenha um III bem desenvolvido acaba um fantástico sofista. Faz malabarismos com os milhares de sistemas dogmáticos e conceitos que aprendeu enquanto sujeito bem sucedido de III circuito, e pode levar pessoas muito presas nesse mesmo circuito a romper os sistemas dogmáticos, seja caindo para o segundo, via raiva ou admiração, ou indo para o IV, justificando a atitude com um pragmatismo pé-no-chão. Em ambos os casos, o xamã de III circuito consegue o que quer, sacudir, ajudar ou prejudicar o sujeito envolvido - o que não necessariamente se relaciona diretamente ao subir e descer dos circuitos, e sim à vontade do xamã.

O sujeito fracassado nesse circuito é alguém culto mas um tanto teimoso, alguém que pode ser inteligente, mas isso acaba sendo um fardo, que acaba com a vida pessoal do IV circuito, dos relacionamentos, ou que tolhe o livre fluir do II circuito, transformando a pessoa numa espécie de máquina anti-social, ou ainda, que auxilia algum fanatismo moral de IV circuito mal resolvido. Dão ótimos trabalhadores, e são o que as ideologias presentes da religião e da TV buscam formar, e de certa forma valorizam.

O aperfeiçoamento do xamã deste circuito envolve habilidades de leitura e escrita acima do normal, rapidez de aprendizado, utilização absoluta dos meios de comunicação, principalmente os que o colocam em situação ativa, como o computador. Conhecimentos de semântica, semiótica, filosofia geral, e uma boa base científica são outras facas a afiar.

Espírito crítico é talvez o ponto mais importante do circuito, e se desenvolve a partir de uma rebeldia ativa quanto as atitudes dos pais, e figuras de autoridade em geral e de professores e escritores em específico. Essas pessoas geralmente estão centradas no segundo circuito e em são consumidores passivos das informações dos xamãs de III circuito mais influentes. Esta rebeldia só é possível com a superação dos mecanismos de culpa/recompensa do II circuito - estabilidade emocional - que só é possível com uma boa auto-estima gerada por um I circuito bem estabelecido -segurança.

Os estimulantes em geral levam ao segundo circuito. Os suaves, como o café, ampliam a capacidade de concentração e cocaína e anfetaminas intensificam o estado maníaco e em geral produzem uma atividade intelectual maior. Estas substâncias também ampliam o egocentrismo e os diálogos internos - idéias que passam pela cabeça em fluido método dialético. Isso aumenta a possibilidade de produção intelectual, embora não permita o estudo metódico. Pessoas centradas no segundo circuito se sentem muito beneficiadas pela auto-estima automática que recebem destas substâncias, e acabam levadas pelo abuso. Este é em geral perigoso: overdose no caso da cocaína, dependência no caso das anfetaminas, ou no caso do café, úlcera, irritação, dor de cabeça, mau hálito e dependência.

Anfetaminas também estão sendo utilizadas para reabilitar pacientes em depressão profunda que ficam em um quarto escuro apenas comendo e excretando, ou seja, que regrediram a um útero de I circuito. Xamãs de circuitos superiores utilizam estas drogas muito raramente, pois são perigosas exatamente por darem uma falsa sensação de poder, e em geral colocarem os não-lineares "Gatos de Schrödinger" em labirintos paranóicos de conceitos fechados em si mesmos e dogmas circulares, argumentações dialéticas interiores intermináveis, além de não serem em absoluto drogas sociais.

O tagarela, o nerd, o CDF, o espertalhão, o chato científico, são os estereótipos deste circuito, o verdadeiro erudito, com uma curiosidade imensa, e um senso dialético interiorizado, é o sujeito bem sucedido neste circuito.

Sem a capacidade lógico/simbólica deste circuito são impossíveis os sistemas fractais de informação e conhecimento que se formam no VII circuito. O III circuito é o plano cartesiano onde a grade de infinitos fractais relativísticos e paradoxos multidimensionais do VII circuito se assentam. O que é uma escolha de um dogma ou sistema de conceitos no III circuito é a escolha de um universo no VII. O mapeamento cartesiano do universo do III circuito permite o mapeamento fractal do VII. Este conhecimento sistemático e crítica dialética ajudam também o autoconhecimento necessário para a metaprogramação do VI circuito.

IV - O circuito social

"O Egito, ao criar um Estado, criou a beleza."
Camille Paglia

"A Civilização é somente uma falha temporária da entropia."
Christine Nelson

"Civilização é a distância que o homem colocou entre si e seus excrementos."
Brian Aldiss

"Não existem fenômenos morais, somente interpretação moral dos fenômenos."
Nietzsche, Além do bem e do mal

"A loucura é rara em indivíduos - mas em grupos, partidos, nações e eras é a regra."
Nietzsche, Além do bem e do mal

"A sociedade existe somente como um conceito mental; no mundo real existem apenas indivíduos."
Charley Reese

Capacidade de encontrar um parceiro sexual, relacionamentos, vida em sociedade, aglomerados tribais, cidades e a aldeia global são manifestações típicas de IV circuito. Ele é impresso nas primeiras relações sexuais. Todo o adulto alcança experiências de até IV circuito e o orgasmo é a experiência mais intensa possível nos quatro circuitos terrestres.

A formação de tribos onde o conhecimento é passado através das gerações é a função do quarto circuito. Assim, da unidade familiar até o patriotismo, passando por formação de gangues, sistemas étnicos, etc.

Quando alguém é racista, está separando o estranho pela cor, língua, costumes, vestimentas, etc. Se for dominado por paixões típicas de segundo circuito vai partir para uma represália como a discriminação. A coisa não precisa ir para o racismo - que é uma manifestação rude e simplória de um ethos doente e fundamentalista - pode se tratar inclusive de uma questão de gosto (I circuito) ou ideologia (III circuito). Partir para a reprimenda (II circuito) porque não se gosta da música do outro, ou das idéias do outro, ou da cara do outro é atingir o IV circuito de maneira tacanha.

As pessoas centradas neste circuito são poderosas e respeitáveis, sendo geralmente idosas. O estereótipo mais comum é o casal respeitável e núcleo de família. Geralmente conservadores, cheios de ritual e etiqueta, normas tácitas, dissimulação, elogios vazios. Cheios de autoridade fria, como a de um senhor para um servo, não como a de um pai para um filho do II circuito. O xamã do circuito é o líder político, o senhor das boas maneiras e da civilidade ou o padre, é o líder moral.

O xamã deste circuito deve entender dos jogos morais e ser um diplomata absoluto. Deve ser uma pessoa graciosa com a autoridade baseada no próprio exemplo, não o exemplo carismático do II circuito, e sim um moral, ou de poder financeiro. Os circuitos baixos devem olhar para ele e ter seu ideal de vida estabelecida como quase inatingível, mas extremamente desejável, da exata mesma forma que o servo deveria olhar para o senhor feudal.

Não existe droga específica para o IV circuito, mas se poderia pensar nos hormônios, ou em algum possível afrodisíaco, pois a característica sexual é a base do circuito, assim ele é condenado pelas feministas como "falicismo" ou "patriarcado". O poder masculino deste circuito é contrabalançado pelo poder feminino do V, da mesma forma que o feminino I é equilibrado pelo VIII. A figura representa uma lemniscata imaginária na figura do yin-yang. Note os workaholics masculinos de III e IV circuito sendo "explorados" com as compras de roupas, cosméticos, viagens, diversões em geral que apenas suas esposas de V circuito conseguem usufruir. Perceba também que esta característica de papéis sexuais definidos está desaparecendo com a paulatina transição de IV para V circuito que nossa civilização como um todo atravessa agora, o que indica desde a repentina insurgência do poder das feministas (IV circuito encaminhando-se para V) até a bissexualidade e o epicenismo nos papéis sexuais.

Os fracassados neste circuito são os homens poderosos em geral, que não tem tempo para si. Este é o típico estereótipo do ganancioso, o velho rabugento, que jamais compreenderá o prazer corporal do V circuito, e ignora o prazer passivo no útero do I. Estas pessoas muitas vezes descontam suas frustrações nas pessoas abaixo delas, e assim aparecem como o chefe autoritário, o ditador, ou mesmo o manda-chuva que não está nem um pouco atento as necessidades de seus subordinados, e sim as necessidades de algum princípio moral ou mesmo amoral preexistente (geralmente fixado por falha intelectual de terceiro circuito, ou seja, dificuldade de contestar valores preestabelecidos). Eles colocam os centrados no III circuito para trabalhar, segundo seus próprios princípios, e abominam a irreverência e a juventude rebelde dos de V circuito, que são quem põe em prática os valores contestados no III circuito. Interessantemente, outro arquétipo comum ao circuito é o do "velho broxa", ou seja, o sujeito que disponibiliza toda sua libido para o trabalho na liderança/domínio de outros. Obviamente ele não conhece as experiências sexuais de V circuito que podem elevá-lo a um VI ou VII circuito, onde com suass pendências de III circuito ele seria realmente um ditador muito poderoso. Isso acontece de tempos em tempos, e creio que Hitler é um exemplo deste tipo de "xamã do mal", uma pessoa que chega a um VI circuito e que tem problemas do I ao V, e geralmente se fixa na imagem conhecida do poder, que é o IV.

A moral é a primeira criação (imposição aos outros) de realidade conceptual própria: desta forma ela é a chave do circuito. Assim o xamã de IV circuito estabelece o que é o "Bem" e o que é o "mal" ("Genealogia da Moral" de Nietzsche), e suas habilidades são um misto de figura paternal de II circuito com o intelecto agudo do III. O xamã neste circuito deve desenvolver plena independência econômica que o permita tempo livre no trabalho com si mesmo. Sua palavra deve se tornar lei para seus subordinados, e para isto paradoxalmente é necessário que ele seja justo, ou aparentemente justo, de forma a não ser contestado pelos sujeitos bem sucedidos de III circuito. Respeito é a ferramenta do xamã de IV circuito, ele a obtêm com a auto-estima da segurança do I, com o status que o carisma da emoção balanceada do II permite, e com certeza da retórica impecável do III [enquanto ela permanece possível].

Não existem drogas específicas de IV circuito, mas a testosterona, o hormônio masculino poderia ser considerado como o detonador de toda a agressividade e audácia necessárias para manter o poder.

O senhor respeitável e bem humorado, que sorri beatífico perante as "baboseiras" criativas do V circuito, e que participa com elegância de uma discussão de III é o estereótipo de um sujeito que foi bem sucedido no IV circuito, ele é ouvido e levado a sério. Ele é moralmente "correto" (i.e., coerente consigo mesmo), e repassa seu sistema moral adiante ("função social").

Sem a capacidade de vida em sociedade deste circuito, o xamã não consegue romper o véu entre o VII e o VIII circuito, já que se não tem a capacidade de se projetar a vontade nas outras pessoas, para entender suas motivações e seus desejos (o correspondente Cristão de "não fazer nada ao próximo que não gostaria que fizestem a si"), não vai conseguir se projetar na realidade, se unificar com o cosmo, no VIII circuito. Se ele não for capaz de desenhar seu próprio sistema moral nunca conseguirá romper o véu que separa o IV do V circuito, coisa que exige o espírito crítico do III, e nunca conseguirá uma experiência mais intensa do que um orgasmo, ou seja, um êxtase místico: um orgasmo no tempo (V circuito, práticas tântricas de prazer prolongado, Sabbats), um orgasmo no espaço (VI circuito, magia cerimonial, "projeção astral"), um orgasmo na realidade (VII circuito, taoísmo, samadi) e um orgasmo no vácuo, (VIII circuito, nirvana no budismo, morte no sentido mais amplo). Mas é claro que estou usando a palavra "orgasmo" apenas para dar uma idéia das experiências de pico dos Gatos de Schrödinger, já que os conceitos nestes circuitos são de difícil assimilação pelos Cães de Pavlov.

V - O circuito hedônico

"A Vida não pode sucumbir no torniquete da Consciência. A vida explode sempre no mais além. Abaixo as Faculdades e que triunfem os maconheiros. É preciso não ter medo de deixar irromper a nossa Alma Fecal."
Roberto Piva, Bules, Bílis e Bolas

"Para os outros espero por mais altos, mais fortes, mais triunfantes, mais alegres, sendo assim por serem erigidos em corpo e alma: leões risonhos virão."
Nietzsche

"Você não pode prestar atenção ao que os outros dizem, quando sabe que vai morrer, ou quando sabe que vai amar. Você tem que esquecer todas estas coisas. Você tem que prosseguir e ser louco. A loucura é como o paraíso."
Jimi Hendrix

"Mulheres que querem ser iguais aos homens são pouco ambiciosas."
Timothy Leary

O V circuito é o primeiro circuito dito "extraterrestre", porque em um grau evolutivo com relação a nossa civilização, seria nele que nós iríamos explorar o espaço, e estabelecer colônias. Nele vencemos a força que nos prende a terra, a gravidade, mesmo que na forma de esportes radicais ou ficar "chapado".

Neste circuito o prazer vai além da experiência de pico dos outros quatro circuitos, ele ultrapassa o orgasmo genital. A metáfora da religião oriental para isso é primeira elevação da Kundalini, a serpente que habita a base da espinha.

As pessoas do quinto circuito são leves e expressivas, bem humoradas e criativas. E todas tem um certo nível de rebeldia, porque em geral não dominam completamente o IV circuito, que é um circuito especialmente difícil na sociedade atual. No mesmo período em que os EUA começavam a explorar o espaço, nós víamos um movimento deste tipo de pessoa, um bando de gente inocente, idealista e alegre: os hippies.

De fato a guerra do Vietnã foi uma metáfora clara do que estava acontecendo: os Cães de Pavlov pegavam nas suas armas para defender seu território [território, Ethos e auto-estima era o que defendiam, encobrindo sobre o inimigo "comunismo" o seu medo mamífero] com excrementos, como por exemplo o napalm, e os Gatos de Schrödinger pegavam em suas guitarras, defendendo sua mutação, berrando em acordes distorcidos a defesa da juventude americana. A revolução da juventude, que começou com o movimento romântico no século passado alcança dimensões épicas durante esse período: a primeira geração que nasceu com a TV.

A década de 60 marcou o início da transição da humanidade como um todo dos mecanismos de condicionamento, culpa/recompensa, dos Cães para os mecanismos de prazer dos Gatos. A revolução sexual, a pílula, as drogas e o rock'n'roll foram a origem da maior revolução cultural que o mundo já presenciou, a vida deixou de ser apenas trabalho, agora até a pessoa mais pobre tinha realidades quânticas em suas casas (rádio, TV), discos eram baratos, todos liam e livros eram acessíveis e havia algum tempo para esse tipo de atividade.

Isso pode parecer pouco, do ponto de vista exigente de hoje. Mas imagine um camponês medieval: o maior "show de rock", "espetáculo de luzes" que ele viu foi quando se deslocou para a cidade grande de sua região para presenciar uma missa na catedral, magnífica, maior que uma montanha, com padres vestidos em roupas "malucas" e incensos cheirosos, e música! Imagine ele comentando com os amigos na volta, em meio ao estrume das vacas e ao trabalho árduo.

As primeiras culturas a chegarem ao V circuito foram aquelas que mantinham uma elite de pessoas que podiam se dedicar ao prazer. As primeiras pessoas que alcançaram o V circuito foram os xamãs que eram alimentados pela tribo, e ficavam pesquisando coisas como ervas e maneiras mais intensas de se fazer sexo. Os três elementos do V circuito são arte, sexo e drogas. Especialmente "música, tantra e maconha", ou modernamente: "raves, tantra e ecstasy", ou, mais estereotipadamente, "sexo, drogas e rock'n'roll".

Os xamãs neste circuito devem fazer arte e sexo como semideuses. Devem conseguir colocar as pessoas em êxtase completo, causar catarse, loucura primaveril e gargalhadas saltitantes. Devem saber usar as drogas psicotrópicas, principalmente maconha, e agir como catalisadores de uma experiência gratificante e que não leve ao abuso que é muito comum entre pessoas de V circuito, inclusive as de circuitos inferiores, como álcool ou cocaína. Estas drogas devem ser evitadas pelos Gatos que já superaram os respectivos circuitos delas (II e III).

Pessoas fracassadas neste circuito são bastante comuns. São conhecidas como "viciados" ou "maluquetes", e na verdade podem estar centralizadas em qualquer dos circuitos superiores, ou mais freqüentemente, em algum dos abismos.

A pessoa bem sucedida neste circuito brilha tanto que geralmente é famosa, ou muito popular. Os artistas bem sucedidos e os profissionais da criatividade e do sexo em geral participam deste circuito.

Não se surpreenda com o fato da prostituição estar no V circuito, ela se refere apenas as prostitutas que estão felizes com o que fazem, existem muitas, e acabam se tornando engenheiras tântricas e xamãs de V circuito, proporcionando muito mais do que o prazer reprodutivo que a esposa de II circuito de um determinado sujeito possa causar.

Este circuito também está muito relacionado com a homossexualidade, e sempre existe uma confusão de papéis sexuais neste circuito, mesmo que não levem a pessoa a ser homossexual. Homossexuais masculinos assumidos especialmente tem uma facilidade grande de cruzar o abismo e se tornarem Gatos de Schrödinger do V circuito. Já sofrendo a perseguição dos cães de qualquer forma. E, por outro lado, qualquer forma de sexo que não vise a reprodução é simplesmente uma maneira de ativar experiências de V circuito. Isso inclui a abstinência, que é uma maneira de perverter a energia sexual tão válida quanto felação, por exemplo. Esse fato a Igreja sempre conheceu muito bem, e a proibição de substâncias psicotrópicas (que vem da Igreja), e do sexo com fins não reprodutivos tem uma função bem simples: proteger os Sacerdotes Lobo-mau de Pavlov de um possível conflito com os Leões orgiásticos de Schrödinger. Por outro lado as práticas cenobitas de flagelo, o ascetismo, enflamar-se em oração, todas são técnicas também válidas de elevação de consciência exatamente porque subvertem a energia sexual [ou a utilizam], e assim certas pessoas dentro do sistema cristão, geralmente os chamados de "Santos", conseguiram acionar V, VI e VII circuitos dentro de seu sistema de crenças.

Sem o êxtase da passividade do I circuito é impossível a experiência do V circuito, e isso as mulheres conhecem muito bem, e a transição de IV para o V circuito marca também a possibilidade do orgasmo feminino. Por isto mulheres independentes, que vivenciam menos o seu lado mãe do que seu lado prostituta, são mais capazes deste tipo de experiência. Por outro lado, o sacrifício é um elemento essencial do salto de VII para VIII circuito, e ele acontece pelo parto na mulher, e pela ejaculação, no homem. O homem após ejacular é o bebê do I circuito de novo, a mulher grávida é um grifo perfeito do VIII circuito.

VI - O circuito psíquico


"Oh, deixe o sol bater em meu rosto e estrelas preencherem meus sonhos. Viajo pelo tempo e pelo espaço, para estar onde estive, sentar com anciões de uma raça nobre que este mundo raramente viu. Falam de dias pelos quais esperam sentados, tudo será revelado."
Led Zeppelin, Kashmir

"Trabalho com ouro, e ouro deve ser limpo com ácido."
Aleister Crowley, Magick Without Tears

"Considero perturbadora sua falta de fé..."
Darth Vader, antes de testar a "força" em subordinado, Star Wars

"Ô ô, seu moço do disco voador, me leve com você pra onde você for... Não me deixe aqui enquanto eu sei que tem tanta estrela por aí..."
Raul Seixas, S.O.S. do álbum Gita


Voltemos ao gatinho preso em cima da árvore após a emocionante perseguição que sofreu dos Cães de Pavlov.

Ele mia, anda de um lado para o outro: "que farei? Que farei?", e começa a anoitecer. Está com fome e começa a se desesperar. Quer tudo de volta, quer tomar seu leite, brincar, explorar o mundo e copular loucamente, mas está preso em cima desta maldita árvore. "Até que a vista não é má, confere uma certa sensação de superioridade". Ele se sente maior até que os deuses, digo, homens [de fato, alguns bichanos vivem melhor do que homens, se considerarmos estes de algum país africano e aqueles de Manhattan, por exemplo; daí se vê que a causalidade, o carma, sendo caótica, conta mais do que ser primata; por outro lado simplesmente não me parece justo com os Gatos, ou com mendigos e Budas, afirmar isto; talvez a idéia do carma seja limitada enquanto contar numa interpretação humana ou pessoal, das possibilidades cósmicas do Caos].

Uma eternidade passa e o bichano começa a ficar realmente irritado, e em seu desespero, berra o mais alto que pode, clama por ajuda e xinga a vida enquanto a barriga ronca. É muito alto para pular, está com muito medo, não sabe que existem gatos que sobreviveram ao pular de alturas muito maiores, e tampouco sabe que alguns já morreram ao pular da mesma altura.

As vertigens começam, e o Gato não é mais um ser cheio de aspirações a completar, leite a tomar, rolos de lã, terrenos baldios e fêmeas no cio a conhecer, é apenas um fiapo miserável de gato desesperado.

Em um segundo ele se torna Uno com a Vontade, e é salvo.

Dias depois, andando calmamente pela rua nosso Gato de V circuito começa a pensar no que aconteceu.

Ele conseguiu chamar a atenção daquela velha senhora que morava ao lado da árvore, e ela chamou ajuda para retirá-lo da árvore. "Que seres magníficos, esses humanos! Incompreensíveis, mas magníficos." E ele continua vivendo sua vidinha, tomando seu leite, brincando com sua lã e traçando as gatinhas no terreno baldio.

Um belo dia um pensamento esquisito aparece em sua cabeça. "Eu podia ter pulado!", e esta é a primeira experiência de VI circuito que ele tem. Ele soube neste instante que não havia diferença entre esperar ajuda e saltar, algo teria que ser feito de qualquer maneira. Ele fica curioso sobre os homens pela primeira vez. "Alguns gatos dizem que foram Eles que construíram estas casas e este asfalto, imagine!"

A partir deste dia ele decide usar todas suas sete vidas para subir a escada de Jacó. Resolve também conviver mais com os deuses, para saber como é ser um.

O VI circuito permite metáforas como essas, permite a metáfora do homem como deus, e vice-versa. Um homem no VI circuito não vê mais uma realidade, ele percebe que tudo que ele sente não passa de uma metáfora, e acaba conseguindo o domínio sobre as metáforas, quando finalmente transita para o VII circuito. Artistas realmente inspirados alcançam o VI circuito, e se dizem dominados por "musas".

Os triângulos enlaçados da Estrela de Davi demonstram essa interligação do humano com o divino, ou do real com o ideal - do homem com o super-homem.

O entendimento deste circuito se processa quando tudo "faz sentido", porque a pessoa consegue entender a conexão de todas as coisas. Os métodos adivinhatórios se baseiam nisso, e uma cartomante comum, geralmente centrada num II circuito, alcança uma experiência de pico de VI circuito quando faz qualquer tipo de adivinhação. Uma pessoa neste circuito tem a sincronicidade como tão comum que não precisa de instrumentos adivinhatórios para prever algo: rostos de pessoas na rua, sons, bolas de cristal, Tarô, formigas, o vento e qualquer fenômeno caótico e imprevisível pode servir para acionar um processo fractal inconsciente, que dá uma resposta com uma precisão razoável.

Já o xamã neste circuito é um patife. Ele prende gatinhos em árvores só para ensinar belas lições para eles. Assusta, corrompe, engana, distorce, cria realidades conceituais inteiras, apenas para sacudir os Cães e Gatos acomodados em seus circuitos. Geralmente são conhecidíssimos exatamente por serem palhaços, loucos, cafajestes, criaturas perigosas, satanistas ou abobrinhas puras. Eles são tudo isso, dependendo tão somente do circuito do observador.

Técnicas de magia cerimonial tais como "Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião", do Livro de Magia Sagrada de Abramelin, o Mago, são técnicas válidas, mas ultrapassadas, de forçar uma impressão de VI circuito. Do lado cético podemos centralizar essas técnicas na obtenção do "Samadi", um alto estado místico plenamente documentado por estudos neurológicos. O êxtase da experiência deste circuito é como uma serpente apertando o coração.

É impossível sofrer uma impressão de VI circuito sem um estado emocional estável, a desestruturação pode levar a estados depressivos profundos, um retorno ao primeiro circuito, mas mais normalmente a algum abismo. É isso que acontece com as pessoas que têm surtos psicóticos quando ingerem alucinógenos, as drogas específicas deste circuito. Grandes doses de maconha, doses convencionais de mescalina, psilocibina e pequenas doses de LSD provocam impressões de VI (o entendimento da multirealidade) e ocasionalmente VII circuito (o contato com os arquétipos). Estas drogas são letais para os deprimidos profundos de I circuito (por suicídio, essas drogas em si são fisiologicamente praticamente inócuas), muito assustadoras para os emocionalmente perturbados do II circuito, causadoras de confusão mental para os bitolados de III, reais detonadoras de rupturas catastróficas para os de IV, e apenas esquisitas demais para os de V. Seus resultados são absolutamente caóticos. Sem a orientação de um xamã de VII circuito, que consegue "dominar o espírito da substância" e orientar a experiência para o resultado desejado, elas naturalmente podem causar uma iniciação específica em algum circuito, ou na sombra do circuito, ou seja, o sujeito pode sofrer qualquer tipo de impressão. Essa técnica de terapia de choque é conhecida como "lavagem cerebral".

O sentido atual normalmente utilizado para a palavra "xamã" centraliza o termo numa pessoa bem sucedida de VI circuito e cruzando o abismo que separa o VI do VII.

VII - O circuito mítico


"Alguém perguntou: 'O que é seu caminho?'
Puman respondeu: 'O que é agora?'"
Ensinamento Zen

"O Amanhã nunca acontece, cara."
Janis Joplin, Janis in Concert

"Diga olá para minha Mãe e meu Pai, a Terra e o espaço."
Jimi Hendrix

"Vamos recriar o mundo. O palácio da concepção está em chamas."
Jim Morrison, Wilderness

"Os vários 'outros mundos', com os quais os seres humanos erraticamente tomam contato são os muitos elementos da totalidade da consciência pertencente à Mente Como um Todo."
Aldous Huxley, As Portas da Percepção

"Eu fui vítima de uma série de acidentes, como somos todos nós."
Kurt Vonnegut, The Sirens of Titan


É extremamente raro uma pessoa alcançar este circuito. Nele obtém-se o controle sobre a sincronicidade em si, e não só sobre a previsão desta. Isso faz da pessoa um arauto da evolução em si, um "mestre", como entendido pela teosofia, pela Golden Dawn ou por diversas outras ordens esotéricas.

De certa forma todas as pessoas que alcançaram este circuito são um só ser, pois livres da personalidade, que mataram ao cruzar o abismo anterior, elas deveriam ser da mesma essência ou estarem unidas na grande obra.

Visões, plano astral, experiências de "vidas passadas", são relativamente fáceis de obter, e são o tira-gosto da experiência de VII circuito. Como uma pessoa centrada num II ou III circuito pode facilmente obter estas experiências, ela normalmente vai usar os elementos conceituais de que é capaz, e vai descrevê-la com qualquer tipo de metáfora simpllória com que estiver acostumada: "espíritos", "extraterrestres", "arquétipos do inconsciente coletivo", "alucinações", etc.

Elas são tudo isso: são "extraterrestres" porque de certa forma estão muito além da gravidade, culpa/recompensa, comportamento territorial e mamífero, etc.; são "espíritos" porque no mínimo não são palpáveis, no sentido em que um estado de êxtase, uma alucinação, uma idéia, não é palpável; são "arquétipos", ou seja, são experiências universais que se repetem com padrões identificáveis; são "ilusão", já que não são uma realidade objetiva, que por sua vez provavelmente não existe.

São ainda nós mesmos no futuro, quando rompermos o espaço-tempo, seja a nível da consciência, seja ao nível de dispositivos tecnológicos futuros improváveis: "maquinas do tempo".

Em geral, são o que quisermos projetar, já que um processo neste nível envolve a realidade supra-conceptual, e não faz sentido enquadrar coisas deste tipo em qualquer categoria de pensamento. O VII circuito rompe o véu da manipulação da realidade. O xamã neste circuito cria realidades, da mesma forma que um xamã de III circuito cria conceitos.

O pensamento fractal está sediado neste circuito, onde tudo é visto com a extrema complexidade que merece. A resposta sempre aparece quando abandonamos a pergunta.

A pessoa comum bem sucedida neste circuito geralmente alcança um status messiânico de alguma forma. Não é preciso dizer que para entender a realidade como uma pessoa de VII circuito entende, é preciso uma suprema capacidade conceptual de III, e sem essa é comum o aprisionamento em abobrinhas místicas/emocionais de II ou em pseudo-ciência ou ciência dogmática de III. Sem o IV circuito bem desenvolvido ela nunca vai conseguir impor autoridade perante massas e se tornar um verdadeiro Hierofante, sem o V não vai ter "energia" e postura corporal, sem o VI não vai ter compaixão.

Este circuito é chamado de consciência neuro-genética, pois envolve de certa forma uma conspiração com nossos genes. Eles são outra metáfora para os Illuminati. São mestres de nossa fundação biológica, trabalhamos inconscientemente para eles durante todos os outros circuito. No VII "falamos" com eles, e somos intimados a colaborar em seus planos secretos de domínio do universo. Claro que isso é apenas a abobrinha biológica correspondente aos "espíritos" e "extraterrestres" dos mais "desinformados".
VIII - O circuito espiritual


"Há sucesso."
AL III, 69

"Assim acima como abaixo."
Hermes Trimegistus, A tábua de esmeralda


Hércules derrotou Cérbero. O Abismo foi conquistado.

Deste circuito há pouco a falar, exceto que ele e o primeiro são o mesmo até que a Deusa se ponha a parir a ilusão da separação das coisas. O xamã neste circuito o bebê, o Bobo. Seu irmão gêmeo idoso permanece o olho velado no triângulo.

Ela profere o nome de Deus ao sair do útero do tempo, num berro terrível e obstinado, em meio ao sangue de uma mãe e a abóbada da outra, criando a realidade.

O universo é bem sucedido neste circuito.